quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Prevenção ao Câncer da Pele 2007

A Sociedade Brasileira de Dermatologia, por intermédio da articulação nacional de cerca de 1.500 dermatologistas, realizou em 24 de novembro de 2007, a nona edição da Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer da Pele.
..
A divulgação pela mídia estimulou para que comparecesse ao exame preventivo, principalmente, quem apresentasse alguma das características de risco para câncer da pele e/ou sinais clínicos suspeitos. Portanto, esse exame preventivo teve caráter mais marcante de prevenção secundária (diagnóstico precoce). Tendo em vista essa consideração inicial, é possível entender que qualquer análise ou comentário dos dados resultantes da consolidação das planilhas não representa um estudo populacional, e esse viés deve ser levado em consideração.
..
Outro ponto importante prende-se ao fato de que a maioria dos locais de atendimento recebeu pacientes do tipo assistencial, o que naturalmente não representa amostra homogênea da população brasileira.
..
É possível que outras particularidades possam influenciar os resultados obtidos, como, por exemplo, ter estimulado para comparecerem ao exame preventivo pacientes que já tiveram câncer da pele e que estão em seguimento no próprio hospital.
..
Em todo o Brasil foram atendidas 31.429 pessoas. O primeiro detalhe, foi a presença maciça das mulheres: 62,5% para apenas 37,5% de homens. Isso reforça a tese de que o sexo feminino é mais cuidadoso com a saúde do que o masculino.
.
A exposição ao sol, sem proteção, foi referida por 67,7% dos examinados. Entretanto, antes de considerar que o dado aponta descaso generalizado do uso da proteção solar, é necessário entender que a pergunta foi feita, na maioria das vezes, considerando-se apenas a prática do uso de filtro solar. O custo elevado do produto pode perfeitamente justificar o percentual, já que a maioria dos entrevistados pertencia à população de baixo poder aquisitivo. Essa pode ser uma lição importante na luta contra o câncer da pele, pois a proteção solar não se resume ao filtro, e, portanto, devemos divulgar as informações quanto às demais formas de proteção, como uso de chapéu e camiseta. Além disso, a SBD deve concentrar seus esforços no sentido de disponibilizar o filtro solar para a população de risco.
.
Alguns resultados mostram que o estímulo para que comparecessem ao exame preventivo, pessoas com características de risco e/ou sinais suspeitos de câncer da pele funcionou bem:
- 8,1% delas tinham história de câncer da pele;
- 16,6% relataram familiares afetados com câncer da pele;
- 10% dos pacientes examinados estavam com algum tipo de câncer da pele.
.
Esses números, entretanto, não significam que a população brasileira em geral tenha essa incidência de câncer da pele; evidenciam antes o resultado de uma motivação bem dirigida à população de risco.
.
Aspecto interessante foi que, apesar de as mulheres terem comparecido em maior número (62,5%), foram os homens que mais receberam o diagnóstico de câncer da pele (13,1% para 8,1% das mulheres). É possível que os homens tenham assimilado melhor o estímulo para o diagnóstico precoce, e as mulheres tanto para a prevenção primária como secundária.
.
A divulgação gratuita da campanha pela mídia é sempre conseguida com bastante facilidade. O esforço concentrado na semana marcada para o exame preventivo tem-se mostrado bastante produtivo. Muitas vezes, a ação da televisão, no dia da campanha, é fundamental.
.
Além disso, filipetas distribuídas durante uma semana dentro de vários hospitais colaboraram com 14,5% da presença do público.
.
A distribuição gratuita de bonés, camisetas ou mesmo filtro solar em muitos locais de atendimento provocou uma corrida de pessoas desmotivadas para o exame preventivo e que na maioria das vezes não pertenciam ao grupo de risco. Esse ponto necessita de avaliação.
.
A média de idade dos pacientes diagnosticados com câncer da pele não melanoma aproximou-se dos 70 anos. Isso mostra que a longevidade, fenômeno mundial, traz, cada vez mais, um contingente de pessoas mais propícias para desenvolver o câncer da pele, o que talvez justifique aumento universal do câncer da pele não melanoma, apesar de todos os esforços das campanhas de saúde pública. Caso isso não se comprove de fato, pelo menos temos a certeza de que a avaliação da pele do idoso deve ser uma das prioridades no exame físico pelo médico de atenção primária. Esse será um dos focos do Programa de Controle do Câncer da Pele para este ano.
.
Em relação ao melanoma, na campanha foram diagnosticados 201 casos, cerca de 5% da estimativa anual brasileira (Inca). A prevenção secundária (diagnóstico precoce) também será um foco do Programa neste ano, pois, isso representa uma luta eficiente e de efeito imediato sobre a mortalidade do melanoma. Também, chamaremos atenção para a região plantar do idoso, já que vários casos de melanoma acrolentiginoso foram aí diagnosticados durante a campanha.
.
A avaliação dos resultados é ponto muito importante do processo, pois, sua interpretação fornece subsídios para o conhecimento epidemiológico do câncer da pele no Brasil, bem como instrumentação para novas ações preventivas.
.
Com a campanha, a Sociedade Brasileira de Dermatologia realiza ação que, além do aspecto social, valoriza de fato a figura do dermatologista.
(fonte: site da SBD, por Marcus Maia, Lúcio Bakos e Selma Cernea)